O que eu sou não importa mais, não consigo mais me reconhecer em meio a tantos reflexos, a tantos feixes de luzes que incidem fortemente em mim. Eu sou pré-determinado por lixo, sobrevivo do que não serve mais para os outros e incinero–me todas as noites.
Todas as manhãs sinto-me limpo, suave e cristalino. Ao meio dia já estou espirrando da poeira formada por cada partícula do conhecimento inútil que absorvo na faculdade. À noite já estou vomitando do fétido odor que emana do meu cérebro morto, ele apodrece sendo roído pelos mesmos vermes que roeram os corpos de Jesus e Hitler.
Eu só me reconheço quando detecto algo de estranho em mim, sei o que sou por eliminação, mas ou eu elimino tudo ou não elimino nada. Sou um dilema, as vezes vazio, cheio, metade, misturado, selecionado. O que está em construção é indefinível e só vou saber o que sou na hora da morte: infinito.
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